ESCOLA SEC. PROF. JOSÉ AUGUSTO LUCAS
Prova escrita de Língua portuguesa – 9º Ano
I - Leitura/Interpretação (50 pontos - 34 texto literário+16 texto informativo já feito)
Lê o excerto que se segue, extraído do conto A Aia, e responde às questões formuladas.
Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais. Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes, como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de lanternas, brilhos de armas...Num relance tudo compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar, matar o seu príncipe! Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-o no berço real que cobriu com um brocado. Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto negro sobre a cota de malha, surgiu à porta da câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou, correu o berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a criança como se arranca uma bolsa de oiro, e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente. O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva. Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o longo flamejar das tochas. Os pátios ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada, quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias, gritando pelo seu filho! Ao avistar o berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro, despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de verga...O príncipe lá estava quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto. E nesse instante um novo clamor abalou a galeria de mármore. Era o capitão das guardas, a sua gente fiel. Nos seus clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo. O bastardo morrera! Colhido, ao fugir, entre o palácio e a cidadela, esmagado pela forte legião de archeiros, sucumbira, ele e vinte da sua horda. O seu corpo lá ficara, com flechas no flanco, numa poça de sangue. Mas, ai! dor sem nome! O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado! Assim tumultuosamente lançavam a nova cruel os homens de armas, quando a rainha, deslumbrada, com lágrimas entre risos, ergueu nos braços, para lho mostrar, o príncipe que despertara. (….) Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na mão, apontando para o céu, onde subiam os primeiros raios do Sol, encarou a rainha, a multidão, e gritou: – Salvei o meu príncipe, e agora... vou dar de mamar ao meu filho. E cravou o punhal no coração.
Eça de Queirós,” A Aia”
1 – Com base nos elementos do texto, refere o tempo e o espaço da acção.
1.1 – Transcreve duas expressões que denunciam a passagem do tempo.
2 – Identifica duas personagens e informa o seu relevo na acção.
2.1 – Selecciona uma das personagens e caracteriza-a.
3 – Perante a previsão de invasão do palácio, que medidas foram tomadas pela serva?
4 – Caracteriza o narrador do texto e indica as marcas da sua subjectividade.
5 – Faz um comentário, entre 70 e 120 palavras, sobre o desfecho do conto e a atitude da Aia.
II - Gramática (20 pontos)
1 – Dá atenção às seguintes frases e responde às questões que se seguem.
a) Um novo clamor abalou a galeria de mármore.
b) O bastardo morrera durante o assalto ao palácio.
c) A mãe caiu sobre o berço.
d) Então a Aia arrebatou o príncipe do seu berço.
e) Todos ficaram espantados com a atitude da serva.
f) Amanheceu quando o combate estava ganho pelo exército do rei.
g) A coruja piou toda a noite.
1.1 – Transcreve um verbo intransitivo.
1.2 - Transcreve um verbo transitivo
1.3 - Transcreve um verbo copulativo.
1.4 – Transcreve um verbo impessoal.
2 – Dá atenção às seguintes frases.
a) Os habitantes do palácio não sabiam que a Aia tinha tanta coragem, embora a considerassem leal.
b) Os habitantes que defendiam o palácio afincadamente consideraram a Aia uma heroína.
c) A Aia incitava todos os seus conterrâneos para que defendessem o reino com coragem e lealdade.
d) A viúva, mãe e rainha muito desamparada, ficou felicíssima ao saber que o filho estava vivo.
2.1 – Transcreve uma oração subordinada relativa restritiva.
2.2 - Transcreve o complemento directo de sabiam. (frase a).
2.3 – Classifica a oração: “para que defendessem o reino com coragem e lealdade”. (frase c)
2.4 - Indica a função sintáctica de “mãe e rainha desamparada”. (frase d)
2.5 – Dá atenção às seguintes formas verbais. Indica o modo e o tempo em que se encontram.
a) consideraram (frase b)
b) defendessem (frase c)
III – Composição (30 pontos)
Como sabes o conto o Tesouro, que foi lido na biblioteca, é muito peculiar. Os irmãos, depois de encontrarem um tesouro, que o acaso lhes entregou de mão beijada, mataram-se uns aos outros por causa da ganância e egoísmo. Não foram merecedores de tal sorte. Por isso, Eça de Queirós, termina a narrativa com a frase: “O tesouro ainda lá está na mata de Roquelanes”, deixando a narrativa em aberto.
Imagina que vais em expedição à mata de Roquelanes à procura desse tesouro. Escreve essa aventura.
O texto deve ter carácter narrativo com, pelo menos, um momento de descrição de um lugar e a caracterização de duas personagens. A extensão deve situar-se entre as 180 e as 240 palavras.
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