segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

ADAMASTOR

Leitura orientada
Proposta de correcção do questionário de Leitura Orientada, segundo as autoras do Manual Plural 9
Elisa Costa Pinto
Vera Saraiva Baptista


1.
1.1 O narrador considera útil e importante transmitir
vários dados: em que ponto do percurso se
encontravam (tinham partido há cinco dias da
baía de Santa Helena), como estava a decorrer a
viagem, quando e como surgiu a nuvem que escureceu
os ares e como reagiram os homens perante
esta súbita mudança.

1.2 A intenção será a de situar no espaço a aparição
do Gigante e mostrar o clima de medo que
precede essa aparição, dada a mudança súbita
que se opera no ambiente quando a estranha
nuvem surge.

1.3 Quem profere estas palavras é Vasco da
Gama. É ele quem está a narrar este episódio ao
Rei de Melinde e ao reproduzir o seu dicurso refere
“disse (eu, subentende-se)”.

2. O Gigante tem um aspecto aterrador. Além de
muito grande é disforme, com pernas e braços
imensos. Os olhos encovados, a barba suja, a cor
estranha da pele, os cabelos crespos e cheios de
terra, a boca negra e os dentes amarelos, tudo isto
lhe confere um ar medonho. O rosto sombrio e a
postura agressiva completam esta figura aterradora,
cuja voz horrenda parece sair do mar profundo.

3.
3.1 Pela postura já referida, pelo tom de voz e
pelas palavras que profere depreende-se que está
furioso.

3.2 O Gigante está furioso por os portugueses se
terem atrevido a navegar nos seus mares, terem
tido a ousadia de vir desvendar os segredos até
então vedados a qualquer humano.


3.3 Não, ele não refere o nome mas sabe que são
“uma gente” que cometeu grandes feitos, “uma
gente” guerreira e incansável.

3.4 O Gigante nutre pelos Portugueses admiração
e ódio. Pelo que se depreende do seu discurso, por
um lado, admira o atrevimento, a coragem, a
determinação da “gente ousada”, mas, por outro
lado, odeia essa mesma gente que veio descobrir
os segredos dos seus mares.

4. Vasco da Gama está a contar este episódio ao
Rei de Melinde e, naturalmente, os naufrágios
posteriores a esta viagem não podiam ser contados
pelo ele próprio, que os desconhecia. O
Gigante, no entanto, como é um ser dotado de
poderes sobrenaturais pode antecipar o futuro,
por isso é ele que narra esses naufrágios, apresentado-
os como a sua vingança.

5. É dado especial relevo ao naufrágio de Manuel
de Sousa Sepúlveda, sua mulher D.ª Leonor e os
filhos de ambos. Trata-se de um casal enamorado,
uma família feliz. É este aspecto, assim como
o sofrimento por que passaram na tentativa de se
salvar, que desperta a emoção do poeta. Os náufragos
vêem morrer os filhos queridos, são assaltados
e despojados da própria roupa por homens
da região, passam por um longo calvário até que,
abraçados, encontram a salvação na morte.


6.
6.1 Segundo o narrador ao ver e ouvir o Gigante
“Arrepiam-se as carnes e o cabelo, / A mi e a
todos, só de ouvi-lo e vê-lo!”. Todos ficaram,
como é natural, apavorados.

6.2 É um Herói porque apesar do medo não
fugiu. Enfrentou o próprio medo, ao interromper
o Gigante e ao perguntar-lhe “Quem és tu?”, correndo
o risco de o enfurecer ainda mais.

7. O Gigante Adamastor participou com os seus
irmãos na guerra contra Júpiter. A sua participação
centrou-se no Oceano em busca da armada
do deus dos mares, Neptuno, e meteu-se em tal
empresa por amor de Thétis, filha de Nereu e
Dóris. Consciente de que com a sua figura assustadora
seria impossível despertar o amor da
ninfa, resolveu conquistá-la à força e informou
Dóris dos seus intentos. Esta pôs a filha ao corrente
do que se passava e Thétis, a quem o amor
do Gigante não despertava senão troça, marcou,
através da mesma intermediária, um encontro
com o Adamastor, procurando com isso serenar a
guerra no Oceano. No noite combinada, o apaixonadíssimo
Gigante viu a bela ninfa despida,
bela, única e louco de amor corre a abraçá-la e
beijá-la. Só depois se apercebeu que tinha nos
seus braços um penedo e que o que vira fora uma
miragem preparada por Thétis. Além desta profunda
humilhação, sofreu ainda as consequências
de Júpiter ter vencido a guerra contra os
Gigantes. Foi convertido naquele Cabo remoto,
banhado pelo mar e, portanto, pela permanente
recordação da sua adorada ninfa.

8. O Gigante aparece perante os Portugueses
furioso, impondo o seu poder pelo medo que despertava
nos humanos. No final desaparece com
um medonho choro, triste e humilhado. O que
deu origem à mudança foi a recordação do seu
sofrimento e talvez a consciência da sua incapacidade
de impedir que os seus segredos fossem desvendados.

9. O Gigante Adamastor, que fisicamente é aterrador,
psicologicamente aproxima-se do comum
dos mortais. É um ser solitário que procura
esconder o seu fracasso e o seu sofrimento no isolamento
total. Apesar de admirar quem ousa
enfrentá-lo, não esconde a sua fúria vingativa por
ver os seus domínios invadidos. Acima de tudo
quer preservar o seu esconderijo. Mas, tendo sido
descoberto, conta a sua história. Revela-se então
como um ser que, essencialmente, foi vencido por
amor. Mais do que a rejeição da amada, dói-lhe
a humilhação a que ela o sujeitou e dói-lhe, mais
ainda, ter perdido a capacidade de sonhar.
Preferia ter continuado na doce ilusão de um dia
conseguir o amor inalcançável de Thétis. É o que
se depreende da interpelação que lhe faz: “Ó
Ninfa, a mais fermosa do Oceano, / Já que minha
presença não te agrada, / Que te custava ter-me
neste engano, / Ou fosse monte, nuvem, sonho ou
nada?”.
O Gigante é afinal um sentimental, que tendo
perdido tudo, até a esperança, se refugia na solidão.
O desvendar dos seus segredos vem tirar-lhe
o pouco que tinha. Daí o temível gigante reagir
como qualquer humano em desespero – desaparecer
para chorar sozinho as sua mágoas.

10.
10.1 O Gigante Adamastor é a representação
simbólica do maior de todos os perigos que o
Homem tem de enfrentar – o medo do desconhecido.
Com que “armas” se luta contra o que se
desconhece? Como preparar o confronto com
não se sabe o quê? Foi esse problema que os navegadores
portugueses tiveram de resolver no preciso
momento. Perante o desconhecido, enfrentaram
o terror e, ao desvendar os seus mistérios, o
desconhecido deixou de o ser.
Através do Gigante representa-se a vitória sobre
os perigos ignorados do mar e sobre o medo.

FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA

1. “Bramindo” e “brada” dão-nos a noção de um
som forte, de alguém que está irritado. Tratando-
-se do mar, sugere-nos um som de ondas a encrespar-
se, águas a ficar em fúria. O verso é ainda
mais expressivo ao referir que esse som vinha “de
longe”, o que dá a ideia de um perigo que ainda
não se sabe qual é, tanto mais que o mar está
“negro”.

2. (figura) robusta e válida; disforme e grandíssima
(estatura); (rosto) carregado; (barba) esquálida;
(olhos) encovados; (postura) medonha e má;
(cor) terrena e pálida; (cabelos) crespos; (boca)
negra; (dentes) amarelos; grande (de membros);
(tom de voz) horrendo e grosso.

2.1 Predomina uma conotação desagradável.
Alguns destes adjectivos só adquirem uma cono-
tação negativa através do contexto em que estão
integrados. Outros transmitem essa ideia independentemente
do contexto, como, por exemplo:
disforme, esquálida, encovados, medonha, má,
pálida, crespos, horrendo, grosso.

3. Os dois adjectivos têm sílabas tónicas com um
som anasalado e fechado, que intensifica o significado
das palavras; torna mais clara a ideia de
um som desagradável e mesmo assustador.

4. O que lhe confere um carácter lírico é o facto
das palavras proferidas expressarem um profundo
e sentido sentimento de desilusão e de perda
de esperança.

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